sábado, 22 de agosto de 2009

MORTOS-VIVOS

Vivemos em cavernas. Nossos hieróglifos horrendos se transformaram em palavras ríspidas e gestos macabros. O nosso fogo é a soberba. Porém, não somos os homens das cavernas, pois nos tornamos vampiros. Vampiros que vivem em grutas. O ódio, o orgulho e a ganância transformaram as vidas dos outros no nosso alimento. Numa conjuntura de batalhas e confrontos diários e constantes, a nossa dependência passou a depender das mortes alheias.
Todos os dias nos submetemos à carnificina imposta pelos dráculas errantes que nos cercam e pelos nossos ancestrais, nos tornando réus e vítimas, tomando posse da herança de sangue que nos foi transmitida. Morbidamente sarcásticos, aprendemos a andar com estacas e cravá-las impiedosamente - quando não nos nossos próprios - nos peitos de quem ousa tentar descobrir, destruindo desejos, sonhos e esperanças de que haja algo mais, algo além das nossas cavernas e da escuridão intrínseca à mediocridade da nossa existência.
Se fomos criados para existir por um propósito, nos subvertemos, e nos conformamos a viver somente para os nossos interesses. Somos o escorpião que mata o sapo. O nosso beijo é sempre o que nos torna agradáveis, preparando a nossa traição. A morte é sempre o que reaviva a nossa lembrança.
Interrogamo-nos constantemente: o que nos espera fora de nós mesmos? Será que é válido o sangue de uns ser o sustento e a força para a ascenção de outros? Será que vale a pena vivermos para matarmos? Será que algum dia vamos viver antes da nossa morte? Perambulamos na Terra à procura de um sentido. Será que enterramos junto com o sepulcro do nosso espírito toda a esperança de sermos melhores? Talvez não haja resposta para tantas indagações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário