sábado, 21 de março de 2009

DE CORPO E ALMA

Apega-te ó alma ao meu corpo
Pois sinto que estás distante
Volta e vê meu esforço
Em manter-te constante

Inconstância súbita
Que causa morte instantânea
Traiçoeiro corpo inóspito
Maravilhosa ilusão momentânea

Toma-ma alma amante
Peço-te que o faças agora
Habita meu peito pulsante
Pois o fim já não demora

Pulsa pronto a sofrer
Pulsa pronto a partir
Pulsa pronto a morrer
Pois pulsa e bate por ti

Vem alma dúbia
Completa meu corpo inútil
Pois alma sem corpo é fuga
E corpo sem alma é fútil

ROTINA

Ele era pobre e triste
Escolhas o fizeram assim
Pois escolhia sempre o que insiste
Em nos conduzir ao fim
Tinha em sua rotina
O seu único e sagrado ritual
Acostumado ao costume que domina
E escraviza no poder do habitual
Fazia sempre o mesmo trajeto
Corria na sua rua até o final
Dobrava a esquina do bar do Roberto
Até chegar à Avenida Principal
Na avenida ele corria
Uns cinco quarteirões
Virava a esquina da Rua Bahia
Sem parar nem dar satisfações
Tomava o caminho de volta para casa
Mas um dia ele pensou em mudar
Pensou em sair da sua rotina
Entraria uma rua antes
Pararia no Bar do Roberto
Faria algo diferente
Mas teve medo
Preferiu manter sua rotina
Quando estava na avenida
Sofreu um acidente
Foi atropelado
Morreu na sua rotina
No seu enterro estavam
Sua mulher e dois filhos
Ninguém mais o prestigiou
No dia de sua morte.