― Olá, meu nome é José.
Tenho sido perseguido por uma visão. Estou andando pela orla de Copacabana.
Inesperadamente, sou abordado por um homem bem vestido, de terno e sapatos importados, cabelos
bem penteados, com uma mala de couro legítimo em uma das mãos e uma caneca em outra,
pedindo-me dinheiro. Logo à frente, havia um maltrapilho, mal cheiroso, que me
contava sua história, dizendo que chegara àquela situação por negligência e
abandono de sua família, que o rejeitou após ter perdido seu emprego e todos
que passavam em volta o rejeitavam enquanto davam atenção à eloquência e à
imagem do outro. Minha visão se encerra por aí. Cansei de buscar especialistas
para que minha visão fosse interpretada.
― Sua visão, seu
José é simples e sugestiva, pois o mundo é feito de pedintes. Desde a mais
longínqua história, pede-se. Esse ato, porém, não está restrito a quem
necessita. Se desse modo fosse, seria justificável, assim como a imagem de quem
necessita não está sempre diretamente relacionada a um semáforo ou à parte
inferior de uma ponte ou viaduto. O perfil de pedintes no Brasil é tão variado
que, em determinado momento já nem se sabe mais o que se pede, mas é peculiar
que todas as esferas peçam.
Entretanto,
historicamente, o brasileiro foi levado a se satisfazer com qualquer agrado,
enquanto uma parcela goza de regalias e privilégios inerentes ao poder que
exercem. Estes, quanto mais têm, mais querem. Assim caminhou a humanidade
brasileira ao longo dos anos. Com passos de formiga.
Nos últimos anos,
contudo, o brasileiro está aprendendo a driblar por um pouco a manipulação
histórica e um avivamento de movimentos está ocorrendo. Vive-se uma onda de
greves e movimentos reivindicatórios, abordados pela grande mídia (leia-se Rede
Globo, canal 666) de forma distorcida, como se fosse errado ou
vexatório ― coisa de quem não tem o que fazer ― lutar por
seus direitos.
Nesse ínterim, o
piso salarial de deputados e senadores continua subindo ― alguns
dinossauros da política alcançam uma folha salarial de quase 70 mil
reais ― e megaempresas continuam a receber grandes isenções e
estímulos do governo para se estabelecerem cada vez mais e manterem a
exploração das nossas terras e do nosso povo. Enquanto isso, professores e
servidores públicos recebem as piores críticas simplesmente por quererem condições
mais justas e dignas de condições de trabalho, palavra esta com a qual muitos
políticos não são familiarizados. Há algum tempo, foram gastos 30 milhões de
reais para a realização do evento para sorteio dos grupos da Copa do Mundo
enquanto, já sob denúncias de superfaturamento, foram gastos 23 milhões de
reais para a construção do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia
(INTO) no Rio de Janeiro, o qual foi criado para ser referência nacional. Abrimos mão de grande parcela do nosso salário e
devemos considerar um favor do governo uma rua asfaltada ou uma iluminação
pública decente ou um sistema de saúde capaz de atender a todos.
Há outras diversas
denúncias e para todas elas a pergunta é a mesma: Onde estão e para quem são as
prioridades? Há um grande problema de vista em muitos brasileiros, que estão, de
certa forma, pedindo esmola. Mas de quem é a culpa?