terça-feira, 20 de setembro de 2011

PEDINTES. UM RELATO FICTÍCIO, MAS REAL

― Olá, meu nome é José. Tenho sido perseguido por uma visão. Estou andando pela orla de Copacabana. Inesperadamente, sou abordado por um homem bem vestido, de terno e sapatos importados, cabelos bem penteados, com uma mala de couro legítimo em uma das mãos e uma caneca em outra, pedindo-me dinheiro. Logo à frente, havia um maltrapilho, mal cheiroso, que me contava sua história, dizendo que chegara àquela situação por negligência e abandono de sua família, que o rejeitou após ter perdido seu emprego e todos que passavam em volta o rejeitavam enquanto davam atenção à eloquência e à imagem do outro. Minha visão se encerra por aí. Cansei de buscar especialistas para que minha visão fosse interpretada.

― Sua visão, seu José é simples e sugestiva, pois o mundo é feito de pedintes. Desde a mais longínqua história, pede-se. Esse ato, porém, não está restrito a quem necessita. Se desse modo fosse, seria justificável, assim como a imagem de quem necessita não está sempre diretamente relacionada a um semáforo ou à parte inferior de uma ponte ou viaduto. O perfil de pedintes no Brasil é tão variado que, em determinado momento já nem se sabe mais o que se pede, mas é peculiar que todas as esferas peçam.
Entretanto, historicamente, o brasileiro foi levado a se satisfazer com qualquer agrado, enquanto uma parcela goza de regalias e privilégios inerentes ao poder que exercem. Estes, quanto mais têm, mais querem. Assim caminhou a humanidade brasileira ao longo dos anos. Com passos de formiga. 
Nos últimos anos, contudo, o brasileiro está aprendendo a driblar por um pouco a manipulação histórica e um avivamento de movimentos está ocorrendo. Vive-se uma onda de greves e movimentos reivindicatórios, abordados pela grande mídia (leia-se Rede Globo, canal 666) de forma distorcida, como se fosse errado ou vexatório ― coisa de quem não tem o que fazer ― lutar por seus direitos.
Nesse ínterim, o piso salarial de deputados e senadores continua subindo ― alguns dinossauros da política alcançam uma folha salarial de quase 70 mil reais ― e megaempresas continuam a receber grandes isenções e estímulos do governo para se estabelecerem cada vez mais e manterem a exploração das nossas terras e do nosso povo. Enquanto isso, professores e servidores públicos recebem as piores críticas simplesmente por quererem condições mais justas e dignas de condições de trabalho, palavra esta com a qual muitos políticos não são familiarizados. Há algum tempo, foram gastos 30 milhões de reais para a realização do evento para sorteio dos grupos da Copa do Mundo enquanto, já sob denúncias de superfaturamento, foram gastos 23 milhões de reais para a construção do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) no Rio de Janeiro, o qual foi criado para ser referência nacional. Abrimos mão de grande parcela do nosso salário e devemos considerar um favor do governo uma rua asfaltada ou uma iluminação pública decente ou um sistema de saúde capaz de atender a todos.
Há outras diversas denúncias e para todas elas a pergunta é a mesma: Onde estão e para quem são as prioridades? Há um grande problema de vista em muitos brasileiros, que estão, de certa forma, pedindo esmola. Mas de quem é a culpa?

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