domingo, 30 de novembro de 2008

O QUE É MAIS IMPORTANTE?


Folha de São Paulo, 29 de outubro de 2008:
“Já a Caixa Econômica Federal confirmou
hoje que irá disponibilizar uma linha de crédito de capital de giro de R$ 3 bilhões para empresas de construção civil. Além disso, o governo vai permitir que outros bancos direcionem mais recursos da poupança para essas empresas. O governo vai criar um fundo com base nos dividendos que seriam pagos pela Caixa à União até 2010. O fundo terá de R$ 1,050 bilhão, ou seja, vai garantir 35% das operações.”


Jornal da Mídia, 06 de novembro de 2008:
“Brasília - O Banco do Brasil vai liberar R$ 4 bilhões para os bancos das montadoras financiarem a venda de automóveis. Os números haviam sido antecipados ontem pelo governador de São Paulo, José Serra, depois de encontro com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.”


Em tempos de crise, o governo tem que intervir nos setores abalados e o faz através de Medidas Provisórias. No caso da atual crise mundial que está afetando os mais diversos ramos da economia, o governo brasileiro tomou algumas medidas de certa forma até drásticas.


As duas notícias acima relatam duas Medidas Provisórias tomadas pelo governo para impedir o atraso da produção, garantir a manutenção de empregos e gerar crédito para as empresas beneficiadas.

Porém, nem sempre as MP`s são bem utilizadas. Algumas semanas após a liberação daquela primeira medida, mesmo com todo o dinheiro injetado nas empresas de construção civil, já havia mais de mil desempregados e mais de 50% das construções iniciadas foram estagnadas.


Outra notícia- Jornal da Unicamp, sem data:
“No Brasil estima-se que morram por ano 123 mil crianças com até um ano de idade, pela fome ou em decorrência da falta de amparo, segundo dados da Fundação Abrinq. Temos 50 milhões de indigentes, de acordo com pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) – a estimativa mais modesta conta 14 milhões de miseráveis. Os números divergem em decorrência dos critérios para classificação da pobreza, tais como renda e consumo diário de caloria, que varia de 2.000 a 2.300k/cal. Em Campinas, dos 970 mil habitantes, 47 mil são indigentes.”


Na segunda Medida provisória, relatada pelo Jornal da Mídia, foram liberados R$ 4 bilhões para as empresas automobilísticas, empresas essas que passaram 10 anos seguidos de opulência, com lucros astronômicos e batendo, nos últimos 3 anos, todos os recordes de venda.


Enquanto isso, o número de crianças e pessoas que morrem de fome e suas conseqüências continuam aumentando progressivamente e o número de pessoas que se encontram abaixo da linha da pobreza não diminui.


Aí vem a pergunta: “Por que o governo retira de nós, humildes contribuintes, mais de 13 bilhões de reais(que é o que eles pretendem gastar até o final da crise) para ajudar empresas que ostentam ganhos inimagináveis, mas não tem como investir 20 milhões de reais na construção e reforma de hospitais públicos de alto nível e de escolas que sejam capazes de fornecer à população uma educação digna de um povo que trabalha arduamente para conquistar uma vida melhor? Por que ele ajuda grandes empresários, mas não tem a capacidade de oferecer serviços públicos decentes às muitas famílias que precisam viver em condições “subprecárias” e recorrer aos lixões para conseguir, inadequadamente, o alimento diário? O que é mais importante: a manutenção de grandes empresas ou da vida humana?”


Mas não se preocupe com isso. Continue se alienando nas suas novelas das nove, assistindo o seu futebol, sofrendo pelos jogadores que ganham em uma semana o que você talvez não vá ganhar em um ano e, um dia, quem sabe, essa situação se resolva e aquelas famílias tenham pelo menos do que se alimentar todos os dias e não precisem mais se rebaixar a situações humilhantes para conseguirem sobreviver num país tão malvado para quem não tem condições de se defender sozinho.

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